É consenso que as chamadas novas tecnologias dos últimos tempos vêm provocando enormes mudanças no
comportamento das pessoas, independente de idade, sexo, crença ou ideologia.
Essas novas tecnologias, como sabemos, é a internet e na última década, as
redes sociais. Todas as nações e povos não estão imunes aos impactos dessas
inovações, em maior ou menor grau, sociedades são afetadas e, junto com elas, o
comportamento dos indivíduos.
Mais
especificamente em relação ao nosso país, nos últimos anos, essas inovações vêm
mostrando como em poucos países a força da transformação que só sociedades
democráticas conseguem perceber. O que então as pessoas buscam nessas inovações
tecnológicas como a internet e as redes sociais? Buscam, nessa ordem
cronológica ou não: informação, formação e socialização.
Sobre
a informação, leia-se, o desejo do indivíduo de se manter informado das
notícias internacionais, nacionais, regionais e locais. Curioso notar que, até pouco
tempo, a informação era buscada nos meios de comunicação como, primeiro, a
televisão e em outros meios como o rádio e o jornal escrito, esses meios de
comunicação já são, na atualidade, considerados como tradicionais, ou para os
mais radicais, ultrapassados. Ainda em tempos de
redes sociais, a informação vem sofrendo duros golpes: prolifera-se notícias
falsas, em inglês, fake news.
Retira-se da informação o que ela tem de mais primordial, a necessidade de
informar o mais próximo possível da verdade.
Quanto
à necessidade de formação, a escola e a universidade foram – e para mim ainda
são – os únicos meios de obtenção do conhecimento sistematizado. Salvo, em
raríssimos casos, em que o indivíduo se torna autodidata, ou seja, busca a
formação por conta própria. Ainda assim, segundo especialistas, o autodidatismo
necessita da legitimidade do reconhecimento por parte do outro.
Em tempos de inovação
tecnológica e redes sociais, a formação via instituição escolar e universitária
também está relegada, ao que parece, a segundo plano, sendo, portanto, um
caminho também tradicional, ou seja, ultrapassado. Ainda com as redes sociais, tem-se a falsa sensação de que a formação é
só um detalhe, um caminho fácil, o YouTube e similares influenciam, em muitos
casos mais que a escola, a universidade, o professor e seus anos de estudo.
Já
quanto à socialização, segundo a sociologia, ela é o atributo colocado em
prática pelos indivíduos quando, conscientemente ou inconscientemente, se
relacionam com outros indivíduos. O fato é que até pouco tempo atrás,
indivíduos se relacionavam entre si, na maioria das vezes, pessoalmente, quando
à distância, por intermédio de meios de comunicação como o telefone ou ainda,
cartas, via correio. Nos tempos atuais, as redes sociais, leia-se, o Facebook,
o WhatsApp e congêneres se tornaram, para grande parcela da sociedade, os
principais meios dos indivíduos se relacionarem.
Nesses
tempos de redes sociais, uma curtida numa
publicação do Facebook, um like numa
foto do Instagram ou um simples “oi” no WhatsApp, é necessário para o
indivíduo ter a sensação de estar presente na vida do outro indivíduo. Tem-se,
portanto, a falsa impressão de que estamos próximos quando, em muitos casos,
estamos cada vez mais longes um dos outros.
Qual seria, então, o
problema na relação: informação, formação e socialização? A princípio infere-se
dizer que, primeiro, o problema não está nas chamadas novas tecnologias como a
internet e as redes sociais, mas no uso a que esses instrumentos são
submetidos. Informação é uma coisa, formação é outra. Informação é o que o
indivíduo necessita para se manter informado no dia-a-dia, para que ele não
esteja desconectado da realidade à sua volta. A informação ajuda a o indivíduo
a formar sua opinião sobre temas dos mais diversos.
Já a formação, quando
não desprezada em instituições como a escola e a universidade, é mecanismo
indispensável para, primeiro, o alcance do conhecimento sistematizado e,
segundo, o crescimento intelectual do indivíduo. Para alguns especialistas no
assunto, a informação é um dos elementos que ajudam na formação do indivíduo,
já para outros estudiosos dessa relação, a informação pouco contribuiria para a
formação, cumprindo à escola e a universidade, exclusivamente essa tarefa.
Mas então
as novas tecnologias e as redes sociais são exclusivamente as vilãs da
modernidade? Evidentemente que não, o problema reside nos indivíduos. Talvez
o maior problema esteja no fato de parcela significativa da sociedade usar as
novas tecnologias como a internet e as redes sociais para, além de submeter a
formação intelectual ao universo da informação, se relacionar apenas pelas
redes sociais. Em que pese o fato de as redes sociais realmente aproximar as
pessoas, elas retiram das mesmas a dimensão humana das relações pessoais.
Vale lembrar que socializar-se
é, antes de tudo, humanizar-se. E humanizar-se é, via de regra, valorizar o que
é humano, o olhar, tocar, sentir, falar, ouvir. Não existe, portanto,
socialização sem esses elementos, assim como não existe, de igual forma,
formação sem informação em alguma medida.
Finalmente, mais do que
nunca é necessário as sociedades modernas e em destaque a nossa, buscar aquilo
que o filósofo Aristóteles na antiguidade clássica grega já defendia como um
dos meios mais eficazes para a conquista da felicidade, a satisfação e a
realização pessoal: o equilíbrio, por ele denominado de ética do meio termo. O
equilíbrio entre a necessidade que temos de acesso à informação para nos
atualizarmos em nosso cotidiano, a necessidade da formação para nosso
crescimento intelectual e compreensão do mundo a nossa volta e, por último, o
entendimento de que esses dois atributos, informação e formação, são elementos
que contribuem para nos socializarmos, ou seja, nos relacionarmos entre si, sobretudo
em nossa sociedade em constante processo de transformação.