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Como condor, voou alto

Paranaense, que morou por muitos anos em Araguaína, se torna a 1ª mulher brasileira a ser patrona de pesca na Espanha

Bruna Catherinny Dzierwa, ao tomar conhecimento que a mãe contaria sua saga estudantil, até que encontrasse a sua profissão, pediu que gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer um agradecimento

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Como um condor, voando bem alto, a paranaense Bruna Catherinny Dzierwa, de 27 anos, com uma beleza irretocável, resolveu bater as asas e voar a altitudes máximas onde seus projetos saíssem dos sonhos e se materializassem.

Destemida, em um belo voo, Bruna deixou o Sul do Brasil e posou no mais jovem estado da federação, o Tocantins, mais precisamente em Araguaína e em Palmas e fez outro pouso na Espanha. Pontos esses responsáveis pelo alicerce na formação profissional dessa jovem paranaense.

Para contar os primeiros passos nos bancos das escolas, a equipe do Portal Araguaína Urgente conversou com a fã número um dessa paranaense, com aquela onde a saudade encontrou morada diária no peito, a sua mãe, Juliana Câmara.

Emoção pura

Com um tom de voz seguro, Juliana não conseguiu camuflar a emoção ao narrar a trajetória da filha, e, entre algumas paradas durante a entrevista, devido à emoção, ela narrou: “A Bruna começou seus estudos na Lapa, no interior do Paraná. Estudou todo o seu ensino fundamental entre Lapa, Araucária e Curitiba. Vamos dizer que ela era uma aluna mediana, não tinha tantas ambições, queria brincar muito, muito proativa e muito defensora dos seus amigos. Quando ela começou a estudar, o ensino médio foi para o Colégio Agrícola na Lapa, onde já se percebia a paixão dela com os termos da agricultura, criando raízes”, lembrou.

De acordo com a mãe, Bruna tem sua família paterna com origem no campo do agronegócio. “Com a separação dos seus pais, Bruna me acompanhou para o Tocantins. De uma certa forma, nesta mudança, ela se encontrou no Tocantins. No colégio Dom Bosco, ela terminou o ensino médio. Ela teve bastante dificuldade na adaptação. Ela foi diagnosticada com déficit de atenção”, disse.

Vestibular

Uma das características de quem tem déficit de atenção é não conseguir estar concentrada, principalmente para estudar, mas nem essa distração conseguiu tirar o foco da paranaense. E, sem que a mãe tivesse conhecimento, Bruna se submeteu a um vestibular e foi aprovada.

“Eu estava em viagem de trabalho no Panamá, quando fui surpreendida com uma ligação dela perguntando se eu poderia contratar um advogado, pois havia se inscrito no vestibular no Tocantins e passado. Ela disse que queria um advogado para que pudesse ingressar com uma ação para que pudesse cursar a faculdade junto com a escola”, contou.

De acordo com a mãe, um advogado foi contratado, mas o juiz negou. “Passado uns dias, a Bruna se inscreveu na Católica no curso de Zootecnia. Bruna passou de novo e entrou com uma nova ação e o segundo juiz a autorizou que cursasse simultaneamente o ensino médio e curso superior”, contou.

Juliana lembrou que, no meio do aprendizado escolar, Bruna deixou de ser uma aluna mediana e passou a ser excelente. “Cada conquista de Bruna, para mim, como mãe, foi uma grande vitória. Eu trabalhava e viajava muito, pouco poderia estar ao seu lado. A cada telefonema ou foto, era uma grande vitória. Quando a Bruna terminou o primeiro semestre de Zootecnia, ela se perguntou se realmente era aquilo que queria. Naquele momento, ela pediu a transferência para o curso de Agronomia. Foi aí, quando Bruna se tornou uma excelente aluna. Ela amava o que estudava”, revelou.

Busca pela profissão

Como qualquer jovem que busca se encontrar em uma profissão, Bruna enfrentou dificuldades. “Apesar do conflito, ela adquiriu confiança e se empoderou no dia-a-dia da faculdade. Ela fez curso de espanhol e inglês ao mesmo tempo. As coisas começaram a tomar um rumo diferente. Aí, a Bruna deslanchou totalmente. Ela se formou com uma nota final de 8,5 que é um bom aproveitamento, hoje no Brasil. Fez a pós-graduação e se especializou em fertilidade do solo “, enfatizou a mãe.

Nesse ínterim, apareceu a oportunidade de Bruna fazer um mestrado na Espanha. “A Bruna se inscreveu na Universidade de Santiago de Compostela para fazer o mestrado em Aquicultura e foi aprovada. Começamos uma jornada imensa de papéis, traduções, documentos, viagem para Brasília, embaixada. Bruna foi morar sozinha em Santiago de Compostela. Nunca tinha morado sozinha. Foi uma dificuldade imensa de adaptação, afinal, era outra cultura, outro idioma, mas ela mais uma vez, foi vitoriosa e conseguiu. Terminou o mestrado com uma nota de 8,5 de trabalho escrito e 9 com trabalho prático. Foi uma conexão plena e Bruna se apaixonou pelo curso de Aquicultura quando foi fazer as primeiras práticas em um laboratório de mexilhões. O laboratório fica com vista para o mar. Ela escutava que na Espanha havia uma grande dificuldade de encontrar pessoas para ir trabalhar no mar”, contou.

Desafio

Aquela afirmativa ecoou para Bruna como um desafio e, sem medo, ela se inscreveu em um colégio de náutica, em Vigo, na Galícia. “É onde existe um celeiro do mundo pesqueiro. Não foi diferente e Bruna também teve dificuldade de adaptação. Querendo ou não, já pela história, é uma profissão, não digo exclusiva, mas sempre foi tida como masculina e isso era algo que pesou muito na decisão da Bruna. Ela dizia: ‘eu vou conseguir, já vi algumas mulheres iniciando, mas no meio do curso desistem, eu não vou desistir’. Ela se inscreveu no curso, começaram as aulas, foi viver na residência da escola. Foi aprovada no primeiro ano, terminou o segundo ano; agora está finalizando a parte prática. Ela está há 45 dias no alto mar. Ela foi para Terranova, no Canadá”.

De acordo com a mãe, Bruna conseguiu fazer algo que poucos conquistam. “É a primeira brasileira a se formar em Patrão de pesca de altura na Espanha. É a primeira brasileira a embarcar como aluna de pesca de altura em um barco pesqueiro de bandeira espanhola e será a primeira capitã de pesca brasileira. Isso, além de ser uma grande vitória para ela e para todos nós da família, ela está escrevendo uma história em um mundo que ela não conhecia e onde ela será pioneira para o Brasil”, afirmou.“Ela tem seu laço e seu berço com o Tocantins, em Araguaína, porque tínhamos empresa naquela cidade e hoje eu posso contar a história de luta, de vitória e de empoderamento da mulher brasileira em outros países. O seu próximo projeto é buscar o título de capitã. Para conseguir, ela precisa ter experiência de 300 dias no mar pescando para passar para essa próxima fase. Ela está desbravando os mares, desbravando uma história na Europa, escrevendo: ‘eu vim, eu vi e eu venci’. Ela vencerá muitos outros projetos que virão pela para frente”, garantiu a mãe.

História do mar

Questionada o porquê de contar a saga de Bruna na busca da profissão, Juliana justificou: “Ela merece que alguém contasse com olhares externos essa história do mar, essa vida, que é de tanto sacrifício. Eles podem ficar no mar até quatro meses sem colocar os pés na terra, deixam a família, não tem aniversário ou Natal. Eles criam uma nova família em cada viagem. Por mais que seja bem tratada, ela, às vezes, quer o colinho de mãe ou uma comida caseira. Bruna está tendo a possibilidade de entender e dar valor a todos os marinheiros e marinheiras nesse mundo que são apaixonados pela profissão que ninguém fala.  Ela pode dizer: ‘eu faço parte dessa história e posso contribuir para as pessoas no mundo inteiro que tem no seu prato o peixe como comida’”.

Muitos nãos

De acordo com Juliana, nada foi fácil para Bruna. “Muitas vezes a Bruna ouviu “não” quando buscava uma empresa para ir como aluna iniciar suas práticas. Ela recebeu mais de 20 “nãos”. Quando teve a oportunidade de receber o primeiro “sim”, ela agarrou com unhas e dentes. E esse “sim” foi dado pela Empresa Pesca Barqueiro que tem olhado para o futuro e vendo que nesse mundo, que sempre foi de homens e de superstições de pescadores, que a mulher tem espaço de suma importância, que não se trata de homem ou mulher, mas, sim, de ter profissional qualificado.  Essa empresa está além dos seus barcos, está preparada para receber mulheres em seus camarotes e banheiros. Essa empresa não olha com preconceito, pois o que uma vida toda foi uma profissão masculina, machista, onde a mulher de forma alguma teria espaço”, desabafou. Juliana fez questão de frisar: “Hoje eu posso felicitar minha filha como a primeira brasileira a embarcar em um Buquê de pesca com bandeira espanhola. Ela está escrevendo história do Brasil na Espanha”, disse orgulhosa.

Agradecimentos

Juliana agradeceu a todos, que, de certa forma, participaram dessa trajetória de Bruna. “Agradeço à Escola Náutica de Vigo, a toda tripulação, principalmente, ao capitão Andrés Blanco, ao dono da empresa Pesca Barqueiro, dom Jacobo Barqueiro, o primeiro oficial, chefe de máquinas, aos amigos e vizinhos que ajudaram, que estimularam, ao seu professor Antônio Portela que em nenhum momento deixou que Bruna desistisse. Ele a ensinou costurar redes e ler cartas náuticas. Quero agradecer também a oportunidade do Portal Araguaína Urgente pelo espaço para que eu pudesse contar a história da minha filha Bruna, que, aos 27 anos, se tornou a primeira mulher brasileira a ser Patrona de Pesca na Espanha e pronta para ser capitã. Muito obrigada a todos”, finalizou.

Participação especial na entrevista

Ao tomar conhecimento que a mãe contaria sua saga estudantil, até que encontrasse a sua profissão, Bruna disse que gostaria de aproveitar a oportunidade para fazer um agradecimento: “Quero agradecer em especial à minha mãe Juliana, ao meu pai de criação Manuel, à minha irmã Keke, pois são as minhas maiores motivações de vida. Minha família!”

(Da Redação)

(Fotos: Arquivo pessoal)

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