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Doutorando em medicina veterinária tira dúvidas de pecuaristas sobre carrapato do boi

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O carrapato é um dos principais problemas enfrentados pelos pecuaristas brasileiros e, segundo o doutorando em medicina veterinária, Guilherme Augusto Motta, a prevenção é muito difícil, considerando que este parasita tem alta persistência no ambiente e alta prolificidade.

O, também, professor assistente em clínica médica e cirúrgica de bovinos, bubalinos e equídeos, do Ceulp/Ulbra (TO), ressalta que se pode realizar isolamento em quarentena antes da introdução dos animais no rebanho residente, associado ao tratamento parasiticida, ou realizar o tratamento no ato do ingresso de animais novos ao rebanho.

O, ainda, mestre em medicina veterinária explica como diminuir os prejuízos com o carrapato do boi. “A diminuição dos prejuízos se dá exclusivamente pelo controle da infestação dos animais pelo parasita. Afinal de contas, nós alimentamos nossos bovinos para nutri-los e não aos parasitas”, disse.

Confira a íntegra da entrevista do doutorando em medicina veterinária, Guilherme Augusto Motta, concedida ao Portal Araguaína Urgente sobre o carrapato do boi.

Portal Araguaína Urgente: Qual o motivo do boi adquirir o carrapato?
Guilherme Motta: Os bovinos são parasitados pelo Rhipicephalus (Boophilus) microplus e não há uma razão determinada para que um bovino adquira esses parasitas a não ser pela relação interespecífica de parasitismo, onde o carrapato se alimenta do sangue do animal, assim como existem os carrapatos dos equídeos e dos cães, as pulgas dos cães e dos gatos e, assim, sucessivamente.

Portal Araguaína Urgente: Como prevenir?
Guilherme Motta: A prevenção é muito difícil, considerando que este parasita tem alta persistência no ambiente e alta prolificidade. Mas pode-se realizar isolamento em quarentena antes da introdução dos animais no rebanho residente, associado ao tratamento parasiticida, ou realizar o tratamento no ato do ingresso de animais novos ao rebanho.

Portal Araguaína Urgente: Quais os métodos para controlar a infestação de carrapatos no rebanho bovino?
Guilherme Motta: O controle da infestação no rebanho, basicamente, restringe-se ao uso de parasiticidas de ataque aliados aos de longa ação. De modo que os produtos de ataque combatem a população de adultos que está presente e se reproduzindo no corpo dos animais; o de longa ação agirá sobre as larvas que estão no ambiente e passarão a infestar os animais e assim continuando com o ciclo de vida do parasita. Vale ressaltar que os intervalos entre as administrações não devem ser menores que 21 dias, pois esta é a duração do ciclo de vida do carrapato. Lembro também que a intensidade da infestação depende da competência dos animais em resistir à infestação.

Portal Araguaína Urgente: Existe alguma raça resistente à infestação?
Guilherme Motta: Animais de raças zebuínas são mais resistentes e tendem a ter cargas parasitárias menores, além de possuírem resistência às hemoparasitoses transmitidas pelos carrapatos, o que ocorre de maneira totalmente inversa nos bovinos de raças taurinas. Sendo assim, apenas o médico veterinário dispõe de conhecimento técnico suficiente para o diagnóstico e a terapia adequados para o rebanho. A rotação de pastagem também contribui para o controle da infestação de modo que, como cada módulo fica mais de 21 dias desocupado, as larvas morrem pela falta de alimento, sangue bovino, e a população de parasitas na área diminui.

Portal Araguaína Urgente: Quais os prejuízos decorrentes do carrapato?
Guilherme Motta: Os prejuízos primários decorrem da espoliação, pois o carrapato se nutre do sangue do hospedeiro. Portanto, este passa a desviar nutrientes para reposição do sangue perdido ao invés de crescer, engordar, produzir leite e emprenhar. Secundariamente, ocorre a transmissão de hemoparasitas, microrganismos que destroem hemácias, que aumentam a taxa de perda de glóbulos vermelhos. Porém, essas doenças são muito mais graves para animais jovens, até um ano e de todas as categorias dentro das raças taurinas. Em escala muito menor, há o prejuízo na qualidade do couro dos animais parasitados que apresentará as marcas produzidas pelo aparelho bucal do carrapato.

Portal Araguaína Urgente: Como diminuir os prejuízos com o carrapato do boi?
Guilherme Motta: A diminuição dos prejuízos se dá exclusivamente pelo controle da infestação dos animais pelo parasita. Afinal de contas, nós alimentamos nossos bovinos para nutri-los e não aos parasitas.

Portal Araguaína Urgente: Quais os riscos para a saúde do boi?
Guilherme Motta: O animal parasitado desenvolverá anemia, devido à perda de hemácias, e também pode sofrer com as hemoparasitoses, Complexo da Tristeza Parasitária Bovina (Babesiose/Anaplasmose). Esta última pode ser fatal e aguda em animais jovens, principalmente nos de origem européia, taurinos.

Portal Araguaína Urgente: Qual o ciclo biológico dos carrapatos?
Guilherme Motta: Cada fêmea pode produzir cerca de 3.000 ovos num ciclo de vida médio de 21 dias, tempo que pode variar pouco de acordo com o clima. Os ovos produzem larvas que permanecerão no solo e na vegetação até que tenham contato e subam no bovino. Estas larvas passam por três estágios até que, por volta do 15º dia, alcançam a maturidade, fase adulta. Nesta altura as fêmeas são fecundadas pelos machos e farão repasto até o 21º dia, quando se desprenderão do hospedeiro, no solo farão sua postura e morrerão.

Portal Araguaína Urgente: Quais os picos ou ondas de infestações?
Guilherme Motta: Os picos de infestações ocorrem nos períodos úmidos do ano, pois as larvas são sensíveis à dessecação e perdem viabilidade com a estiagem.

Portal Araguaína Urgente: Já existe alguma inovação para o controle em bovinos?
Guilherme Motta: O que há de mais recente são trabalhos com o uso de fungos parasitas de artrópodes, entomopatogênicos, como a Beauveria bassiana, que matam os carrapatos em todos os seus estágios na pastagem. Este fungo já tem sido muito utilizado em diversas culturas para o controle de pragas.

Portal Araguaína Urgente: Os pecuaristas podem acabar com os carrapatos com remédio caseiros ou é mito?
Guilherme Motta: Eu, particularmente, desconheço “receitas caseiras” contra carrapatos. Por se tratar de casos em rebanho, essas práticas tornam-se menos exequíveis. Ressalvo que o uso de qualquer substância imprópria sem recomendação técnica pode produzir graves consequências à saúde dos animais e dos seres humanos, bem como contaminações de recursos naturais.

Portal Araguaína Urgente: Quais os tipos de carrapato e as doenças que eles carregam?
Guilherme Motta: Para os bovinos, temos somente que nos preocupar com o Riphicephalus (Boophilus) microplus, que, por si, produz anemia e transmite as Anaplasma centrale e A. marginale, bem como as Babesia bigemina e B. bovis, causadoras do Complexo da Tristeza Parasitária Bovina (Babesiose/Anaplasmose).

Portal Araguaína Urgente: A infestação pode causar redução do leite do animal à baixa qualidade do couro?
Guilherme Motta: Como já foi dito, a espoliação do sangue leva ao desvio de nutrientes das funções produtivas para a recuperação das hemácias. Assim, a produção láctea cai, bem como a taxa de ganho de peso e os índices reprodutivos. A qualidade do couro é prejudicada pelas cicatrizes deixadas pelas quelíceras, aparelho bucal dos carrapatos, na pele.

Portal Araguaína Urgente: Quais cuidados o senhor deixaria para o pecuarista nesse sentido?
Guilherme Motta: As sugestões são monitorar e controlar a infestação no rebanho sempre sob orientação técnica do médico veterinário.
(Por Raimunda Costa)

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