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Fake News no agronegócio é uma praga extremamente letal, alerta agrônomo

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Os avanços tecnológicos nos últimos anos trouxeram grandes conquistas para os diversos setores da economia e da comunicação. E não apenas isso, mas constantemente a ciência tem evoluído, de modo que o surgimento de uma tecnologia rapidamente pode se tornar obsoleto e ultrapassado. Semelhantemente, os principais veículos de comunicação e mídias sociais também passam pelo processo de evolução, tornando a informação cada vez mais acessível ao povo. Dados do IBGE (2019) mostram que 79,9% da população brasileira tem acesso à internet, ou seja, um total de 166 milhões de pessoas.

No entanto, a onda de informações disseminada em extrema velocidade, atrelada ao grande público com acesso às mídias, abriu portas para um enorme problema: a propagação de informações falsas, adulteradas e com má interpretação, ou seja, as famosas Fake News.

A finalidade de uma Fake News não é outra há não ser enganar pessoas e induzi-las ao erro a fim de obter algum ganho ou auferir maior número de adeptos a uma ideologia. As estratégias são muitas: atacar a reputação, citar dados de pesquisas que nunca ocorreram ou que foram mal conduzidas, usam uma meia verdade, propagar notícias antigas, uso de programas humorísticos em rede nacional, etc.

Os pseudos doutores do Agro, que nunca frequentaram uma academia de agrárias ou não conhecem a realidade de uma fazenda, dizem que o esterco da vaca está poluindo os rios e o pum do boi está afetando a camada de ozônio. Aqui temos o primeiro exemplo de Fake News. Não tem estudo, não tem pesquisa, não têm dados, mas saem esbravejando como verdade absoluta. Enfim, a criatividade para tanta baboseira parece não ter fim, como bem disse o físico alemão Albert Einstein: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana”.

O agronegócio está ligado ao dia-a-dia de todos. O arroz com feijão, as frutas e verduras, o tecido da roupa, a agricultura familiar está inserida no agronegócio, os orgânicos são parte do agronegócio, e tantas outras coisas que nos rodeiam todos os dias. E por que não falar da relação do agronegócio com o lazer das pessoas? No churrasco do fim de semana, na cerveja do domingo, na roupa da moda do shopping, da bolsa de grife, na sobremesa depois do almoço em família, no cafezinho com pão de queijo, no combustível do carro, enfim, a lista é quase infinita. Antes que alguém dissemine uma Fake News contra o Agro, deve ao menos, encerrar as atividades listadas acima, para ser no mínimo honesto consigo mesmo.

Se não bastassem as pragas e doenças que acometem as lavouras e os rebanhos, os agricultores agora têm que enfrentar uma nova praga, as Fake News. Essa praga é extremamente letal e tem um alto poder destrutivo. Há grandes interesses camuflados por parte dos grupos que se utilizam das Fake News contra o setor agropecuário.

É comum ouvirmos por aí que o agronegócio é o grande responsável pelo desmatamento desordenado das nossas matas. Não passa de mais uma Fake News. Na verdade, um estudo da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa, 2017), através do satélite Landsat 8, mostrou que, em 2017, o Brasil possuía apenas 7,6% do território destinado à agropecuária, o equivalente a 63.994,479 hectares. Na média geral, outros países utilizam entre 20 a 30% do seu território com a agricultura. Na União Europeia é utilizado de 45% a 65% do território de um país.
A Índia, EUA e China exploram 60,5%, 18,3% e 17,7% de sua área, respectivamente (Miranda, 2018) (USGS, 2017). Quando direcionamos nossa atenção para as áreas protegidas pela legislação no Brasil, são 133 milhões de hectares para Unidades de conservação (15,6%), 121 milhões de hectares de terras indígenas (14,2%) e 268 milhões de hectares de Áreas de Reserva Legal e Preservação Permanente (31,5%), totalizando 522 milhões de hectares, ou 61,3% de toda extensão territorial.

Deste modo, estudos por parte da Embrapa e outras empresas de pesquisa, têm colaborado com tecnologias que preconizam maiores produtividades em áreas cada vez menores, reduzindo a abertura de novas áreas, além dos consórcios com outras culturas e a integração-lavoura-pecuária. Bons resultados têm surgido a cada ano através da agricultura de baixa emissão de carbono – Plano ABC, Manejo Integrado de Pragas, agricultura de precisão, etc. Assim, podemos concluir que o Brasil não é o país do desmatamento e da agricultura irresponsável, mas o país que mais preserva seus recursos naturais e que é exemplo de agricultura sustentável.

Quando a questão das Fake News é direcionada aos agrotóxicos, a multidão de informações falsas é ainda maior. É bem verdade que os defensivos são produtos perigosos e requerem cuidados e orientações diversas para o seu uso correto e seguro. Além disso, devemos concordar que o Brasil utiliza uma boa quantia de agroquímicos, pois aqui ocorre mais de uma safra por ano, estamos em um país de clima tropical e produzimos em mais de 63 milhões de hectares. No entanto, uma das maiores Fake News propagada nos últimos anos é a de que o brasileiro bebe 7 litros de veneno por ano.

Nesta Fake News, vemos o uso de um dado verdadeiro sobre a quantidade de produtos que adentraram no Brasil, porém o cálculo não considera diversas variáveis. Se isso fosse verdade, possivelmente mais da metade dos brasileiros estariam mortos e a outra parte completamente doente, pois 7 litros representa mais do que a dose letal de qualquer produto. Na verdade, segundo o IBGE, nos últimos 77 anos a expectativa de vida do brasileiro aumentou 30,5 anos, ou seja, vivemos mais e melhor hoje, do que nos anos passados.

Não podemos pegar a quantidade de produto que entra no Brasil e simplesmente dividir pela quantidade de habitantes para depois concluirmos que o brasileiro bebe tantos litros de veneno por ano. É no mínimo uma grande irresponsabilidade. Primeiro que há uma infinidade de culturas que não são destinadas para o consumo alimentar, tais como: algodão, cana-de-açúcar, soja, madeira, borracha natural, e tantos outros. Há ainda produtos que são usados como herbicidas no preparo do solo para plantio, outros para o tratamento de sementes e que não têm ligação direta no consumo do alimento em si. Porém, o cálculo não considera isso.

Se considerarmos o tamanho da área tratada com defensivo agrícola e dividirmos pela quantidade de produto empregada, teremos um dado real. Neste caso, com base nos dados de consumo de agrotóxicos no ano de 2017, o Brasil é o 7º colocado no uso de agrotóxicos. Quando o cálculo se estende para a quantidade de alimento produzido em toneladas, o Brasil ocupa a 13ª posição. Em ambos os rankings, o Japão é o líder no uso de agrotóxicos.

Quando falamos em resíduo nos alimentos, as Minor Crops (culturas com suporte fitossanitário insuficiente) representam um sério problema. No entanto, devemos lembrar que o Brasil exporta para mais de 170 países. Só o Agronegócio é responsável por um PIB de mais de 27%. Um importante relatório divulgado pela Anvisa através do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos – PARA, diz que 99% dos alimentos no mercado brasileiro são seguros e apresentam resíduos de defensivos nulos ou dentro dos limites estabelecidos pela Codex Alimentarium.

Assim, se o alimento aqui produzido fosse completamente contaminado como dizem, estaríamos sem mercado e o agronegócio fadado ao fracasso. De fato precisamos trabalhar de maneira incessante para diminuirmos ao máximo os resíduos ainda encontrados em alimentos. No entanto, é importante colocar que nenhuma pessoa foi a óbito pela simples ingestão de um alimento contaminado. Porém, em 2011, na Alemanha, 10 pessoas morreram e outras 300 foram tratadas de uma contaminação causada pela bactéria E. coli ao consumirem pepinos orgânicos importados da Espanha (BBC NEWS Brasil, 2011).

Não é o fato de ser orgânico ou convencional, mas a forma como o alimento é produzido. Em ambas as cadeias, se não houver responsabilidade por parte do produtor, o mesmo poderá colocar em risco a saúde dos consumidores. Assim, podemos concluir que o agronegócio brasileiro é extremamente responsável no tocante ao uso de defensivos agrícolas e dos seus recursos naturais.

Existem muitas outras Fake News direcionadas ao setor agropecuário e que tentam cotidianamente desmerecer o trabalho e estudos voltados a este setor. Porém, vou me limitar apenas a estas, caso contrário teríamos que escrevê-las em um livro. Neste sentido, é importante buscar informações sobre qualquer assunto antes de se manifestar contra ou favorável a ele. É sempre bom pesquisar quais são as opiniões dos órgãos ligados ao setor e o que dizem os especialistas. Pesquise a fonte. Existem muitos sites criados somente para criarem Fake News. E nunca repasse algo que não há fonte, metodologia ou com dados duvidosos. Lembre-se: “a pior praga é a desinformação”.

—————————————————————————Por: Juliano Milhomem Ribeiro

É engenheiro agrônomo e mestre em Proteção de Plantas com linha de pesquisa em manejo de pragas. Atualmente é responsável técnico pelo programa de agrotóxicos na Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Tocantins (Adapec)

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