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Manejo Integrado de Pragas garante a estabilidade da lavoura, afirma agrônomo

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O consultor da Sanveg – Pesquisa e Sanidade Vegetal, doutor Efrain de Santana Souza, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) garante a produtividade, pois está ancorado em parâmetros produtivos e econômicos, ou seja, a correta prática deste manejo garante a estabilidade da lavoura em relação às pragas, com centenas de trabalhos científicos e relatos de usuários mostrando sua superioridade frente ao manejo com inseticidas “por calendário” (aquele realizado sem critérios técnicos e em demasia).

Contudo, o, também, professor e pesquisador em Entomologia Geral e Entomologia Agrícola junto aos cursos de Agronomia do Ceulp/Ulbra e Unitins, destaca, que, além de garantir a produtividade, o MIP geralmente reduz os custos de manejo, aumentando a lucratividade da atividade agrícola. Afinal, o que é mais interessante no final da safra? A produtividade ou a lucratividade?

Confira a íntegra da entrevista sobre o Manejo Integrado de Pragas (MIP) concedida ao Portal Araguaína pelo agrônomo e consultor da Sanveg – Pesquisa e Sanidade Vegetal, professor Efrain de Santana Souza.

Portal Araguaína Urgente: O que é o Manejo Integrado de Pragas?
Efrain Souza: O conceito de Manejo Integrado de Pragas é um somatório de tecnologias e conhecimentos como economia, matemática, entomologia, fisiologia vegetal, fitotecnia, dentre outros. Várias definições podem explicar, em tese, o conceito do MIP, porém o mais aceito é um “Sistema de decisão para uso de táticas de controle, isoladas ou associadas em harmonia, numa estratégia de manejo baseada em análise de custo/benefício que levam em conta o interesse e/ou impacto nos produtores, sociedade e ambiente”. Porém, deve ficar claro que não é o uso de vários métodos de controle que caracteriza um sistema de manejo integrado, mas, sim, a relação dos métodos dentro dos preceitos ecológicos, econômicos e sociais que são as bases do manejo de pragas.

Portal Araguaína Urgente: Como é feito o MIP?
Efrain Souza: Para se aplicar o MIP, é necessário o conhecimento das etapas a serem executadas, relacionando-se positivamente com o sucesso no manejo quando executado corretamente. Basicamente é necessário conhecer os organismos benéficos e as pragas incidentes na lavoura, assim como as interações entre estes organismos e a densidade populacional, utilizando estas informações para posterior tomadas de decisão. Apesar de aparentemente complexo, o MIP pode e vem sendo adotado e aprovado por agricultores de todo o país, que buscam maior estabilidade fitossanitária ao mesmo tempo em que reduzem os altos custos de cultivo.

Portal Araguaína Urgente: Como integrar o MIP na Lavoura?
Efrain Souza: Na maioria das vezes, o agricultor inicia o MIP gradativamente e expande este manejo para área total de cultivo conforme percebe os ganhos multilaterais e adquire experiência. No início, geralmente um consultor Entomologista (especialista em insetos) auxilia na adequação de um plano de trabalho para a cultura em questão, capacitando e acompanhando a equipe para o manejo menos impactante para cada situação enfrentada. Neste processo, são considerados os fatores de mortalidade natural das populações de pragas, que são fomentados com o correto uso das ferramentas de manejo, que vão desde inseticidas químicos seletivos, variedades resistentes, agentes biológicos, práticas culturais, alteração do ambiente, confundimento sexual da praga, dentre outros.

Portal Araguaína Urgente: O Manejo Integrado de Pragas garante produtividade na lavoura?
Efrain Souza: Sim, sem dúvida! O MIP garante a produtividade, pois está ancorado em parâmetros produtivos e econômicos, ou seja, a correta prática deste manejo garante a estabilidade da lavoura em relação às pragas, com centenas de trabalhos científicos e relatos de usuários mostrando sua superioridade frente ao manejo com inseticidas “por calendário” (aquele realizado sem critérios técnicos e em demasia). É interessante destacar, que, além de garantir a produtividade, o MIP geralmente reduz os custos de manejo, aumentando também a lucratividade da atividade agrícola. Afinal, o que é mais interessante no final da safra? A produtividade ou a lucratividade?

Portal Araguaína Urgente: Qual a importância de se identificar as pragas das lavouras antes de agir?
Efrain Souza: Para o sucesso no combate contra um inimigo (neste caso as pragas), torna-se essencial conhecer as espécies comuns em cada cultivo, sua biologia e os fatores que as desfavorecem. A partir deste conhecimento, é possível monitorar e acompanhar a densidade populacional de cada espécie, justificando o manejo quando estas realmente atingirem níveis que compensem (economicamente) a ação. Ao contrário do que muitos imaginam, as plantas cultivadas toleram uma certa densidade populacional de espécies pragas, que também servem de alimento para inimigos naturais na lavoura, estabelecendo um equilíbrio e uma barreira para o aumento populacional das pragas a partir destas relações desarmônicas. Este equilíbrio é raro em lavouras de sistema de manejo convencional, pois, pelas descriteriosas aplicações de inseticidas sintéticos, faltam predadores e parasitoides, deixando o caminho livre e fácil para as pragas quando estas chegarem na lavoura.

Portal Araguaína Urgente: Como evitar a resistência das pragas na lavoura?
Efrain Souza: A resistência de pragas aos principais grupos químicos de inseticidas não é fato recente no Brasil, porém tem se tornado mais frequente e comum em todas as regiões do país. Resistência é uma forma que as pragas encontraram para sobreviver ao efeito tóxico das moléculas inseticidas, e ocorre, principalmente, pela não rotação de ingredientes ativos. Em outras palavras, se um inseto não morrer pela ação de um inseticida, ele morrerá quando for adotado outro inseticida com modo de ação diferente. Neste sentido, a melhor forma, não só para evitar, mas também para reverter a ocorrência de resistência, é a rotação de inseticidas com modos de ação distintos (não basta mudar a marca comercial se o ingrediente ativo é o mesmo).

Portal Araguaína Urgente: O MIP pode ser aplicado em qualquer tipo cultura?
Efrain Souza: Praticamente pode ser aplicado para qualquer cultura, desde que haja embasamento técnico suficiente para dar apoio nas tomadas de decisão sem pôr em risco a sanidade e produção das plantas.

Portal Araguaína Urgente: Quais as pragas que atacam a soja e milho, por exemplo, e como monitorá-las?
Efrain Souza: Assim como em outros cultivos, existem diversos grupos de pragas na soja e milho que possuem os mais diferentes hábitos e ocorrem em todas as fases fenológicas desses cultivos. Apesar de vasta a lista de pragas, existem as espécies consideradas pragas-chave ou pragas primárias, que incidem com maior frequência e oferecem maior ameaça, exigindo monitoramento frequente quanto sua população na área. Neste grupo se incluem mastigadores e sugadores que atacam desde as raízes no início do desenvolvimento das plantas, até o fruto ou produto final. O monitoramento praticado em milho e soja consiste no levantamento semanal de pragas e inimigos naturais utilizando-se de armadilhas com atrativos para as pragas, ou avaliando-se a presença com instrumentos de coleta direta, como o pano de batida que é um artifício de fácil uso e fornece informações seguras, se usado corretamente.

Portal Araguaína Urgente: Qual é a estrutura do manejo integrado de praga?
Efrain Souza: O MIP se alicerça em conhecimentos relacionados à taxonomia dos inimigos naturais e pragas (identificação), associado ao monitoramento para se determinar o correto momento de ação (nível de controle), assim como conhecimentos de fatores locais e ambientais que influenciam na ocorrência das pragas e da fase de maior suscetibilidade da cultura. Todos estes conhecimentos ajudam a nortear a tomada de decisão e escolha das ferramentas para manejo, que podem ser utilizadas isoladamente ou em harmonia, objetivando a melhor eficiência de manejo e o menor gasto e impacto no ambiente.

Portal Araguaína Urgente: O monitoramento é a chave para o sucesso no MIP? Como ele deve ser feito?
Efrain Souza: Sim, pois, sem o monitoramento, o tomador de decisões não consegue enxergar a real situação da lavoura. Não existe manejo consciente e seguro sem as informações populacionais geradas pelo monitoramento, sendo um ato irresponsável, o uso de inseticidas às cegas nas lavouras. As formas de monitoramento podem variar de acordo com os alvos a serem monitorados, onde podem ser exploradas estratégias das mais simples, como a ida a campo munido de coletores e planilhas de anotações, até monitoramento remoto por drones e satélite. No entanto, a viabilidade de cada método é relativa à cultura, ao tamanho da área e outros fatores como o grau de instrução do responsável e/ou nível tecnológico disponível na propriedade.

Portal Araguaína Urgente: O que significa controle biológico natural de pragas?
Efrain Souza: Controle biológico de pragas é a regulação de populações de organismos indesejáveis resultante das interações antagonísticas, tais como parasitismo e predação. Neste tipo de controle, as pragas são eliminadas por servirem de “alimento” para outros organismos, sejam estes microrganismos como fungos, bactérias e vírus, que podem ser comprados facilmente no mercado para este fim ou já são de ocorrência natural nos agroecossistemas, necessitando serem preservados.

Portal Araguaína Urgente: Quais os tipos do controle biológico?
Efrain Souza: Basicamente o controle biológico pode ser do tipo natural ou aplicado, onde o primeiro preconiza o uso e crescimento populacional dos inimigos naturais já presentes na lavoura (aranhas; parasitoides de ovos e de formas jovens e adultas) e o segundo consiste na compra e liberação massal desses agentes benéficos para uma rápida solução com as espécies pragas. Vale lembrar, que este tipo de controle apresenta muitas vantagens sobre o controle químico, como a não poluição ambiental (só atinge o alvo escolhido para controle) e a ausência de resíduos no produto final.

Portal Araguaína Urgente: É possível fazer o controle de pragas na agricultura orgânica de forma eficiente?
Efrain Souza: Assim como na agricultura convencional, o manejo de pragas na agricultura orgânica pode ser realizado eficientemente, no entanto, na orgânica são proibidas algumas ferramentas como inseticidas químicos e variedades geneticamente modificadas que resistem ao ataque das pragas (OGMs). Esta limitação, torna o manejo mais complexo, inviabilizando-o muitas vezes para grandes áreas de cultivo em função da alta demanda por mão-de-obra e consequente custos elevados de manejo.
(Por Raimunda Costa)

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